Austin e o Grupo de Oxford

TODO o trabalho desenvolvido por John Langshaw Austin (1911-1960), na segunda metade do século XX, é uma consequência direta da guinada linguística promovida pelo método de análise iniciado por Ludwig Wittgenstein (1889-1951), algumas décadas antes. Austin pertencia ao assim chamado Grupo de Oxford que, como o Grupo de Cambridge, foi fortemente influenciado por Wittgenstein. Entretanto, enquanto o último procurava fomentar um “positivismo terapêutico”, que visava “curar” os equívocos filosóficos através da discussão da linguagem natural e os desvios provocados pela tradição filosófica; o Grupo de Oxford, composto principalmente por Gilbert Ryle (1900-1976), Peter Frederick Strawson, Willard van Orman Quine (1908-2000), incluindo o próprio Austin, voltou-se exclusivamente para o campo linguístico, com toda interpretação filosófica filtrada pelo prisma da análise da linguagem. Os críticos dessa posição chegaram a denunciar que esses autores, estavam reduzindo a filosofia a uma ciência da linguagem ou a transformando em lexicografia.

As duas obras fundamentais de Wittgenstein, Tratado Lógico-Filosófico (1921) e as Investigações Filosóficas (1953), marcaram profundamente esses dois grupos. Austin estava particularmente interessado na análise dos jogos de linguagem, deixada em aberto nas Investigações. Wittgenstein não havia sido exaustivo em sua análise das funções linguísticas desempenhadas pelos diversos tipos de expressões. Austin, por sua vez, esforçou-se na tentativa de delimitar os modos em que as proposições, além de descrever uma determinada situação –verdadeira ou falsa -, realizam também uma ação no mundo: um ato de fala.

Em How to do Things with Words (traduzido no Brasil por Quando Dizer é Fazer, 1962), Austin categorizou os atos de linguagem em conceitos fundamentais para compreensão posterior do papel da linguagem e da comunicação, por conseguinte. Primeiro, Austin distinguiu as sentenças performativas, aquelas que, ao serem proferidas, realizam uma ação –apostar, declarar, nomear, batizar etc–, das constatativas, declarações verdadeiras ou falsas sobre um fato que é descrito. Haveria também três âmbitos linguísticos específicos nos atos de fala o ato locucionário, que apenas observa o modo como as sentenças são proferidas; o ato ilocucionário, onde os proferimentos tem uma força linguística convencional própria, tais como informar, ordenar, avisar, prometer, perguntar etc; e, por fim, o ato perlocucionário, no qual, ao se dizer algo, se produz uma alteração no ouvinte, que passa a reagir conforme essa ação de convencimento, impedimento, surpresa, confusão etc.

O batismo é uma das ações que são possíveis de se fazer com as palavras. PERUGINO,P. O Batismo de Cristo, afresco de 1483.

A Teoria dos Atos de Fala, lançada por Austin, foi, mais tarde, desenvolvida por John Searle, no livro Os Atos de Fala (1969). Tudo em consequência da revolução filosófica desencadeada por Wittgenstein, que teve em Austin um de seus brilhantes discípulos e continuadores, ao delimitar o domínio da pragmática, na Filosofia da Linguagem.

Referências Bibliográficas
AUSTIN, J. L. Quando Dizer é Fazer; trad. Danilo M. de S. Fº. –Porto Alegre: ArtMed, 1990.
RYLE, G. et al. Ensaios; trad. Balthazar B. Fº. –São Paulo: Abril Cultural, 1985 (Os Pensadores).
SEARLE, J. Os Atos de Fala; trad. Carlos Vogt et al. –Coimbra: Almedina, 1984.
WITTGENSTEIN, L. Tratado Lógico-Filosófico e Investigações Filosóficas; trad. M. S. Lourenço. –Lisboa: Caloute Gulbenkian, 1987.

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