A Técnica Produtiva

A rigor, nem Platão (429-347 a.C.), nem Aristóteles (384-322 a.C.) – os dois principais filósofos da antiguidade – chegaram a desenvolver uma teoria estética sobre a arte ou o belo, no sentido que Alexander G. Baumgarten (1714-1762) iria inaugurar no século XVIII. Contudo, os critérios sugeridos, principalmente por Aristóteles, e as críticas antecipadas por Platão definiram uma maneira de delinear a obra de arte e o gosto estético que levaram aos avanços teóricos proporcionados desde Kant (1724-1804) até Habermas, pelo menos. O vale tudo pós-moderno não foi eficaz o bastante para destruir o conceito de belo, nem apagar as preferências por um trabalho mais fino sobre um grosseiro.
Seres racionais poderiam concordar com os argumentos platônicos em torno de um padrão geométrico de excelência, interferindo na natureza. No entanto, a mera aceitação dessa ideia não seria suficiente para apontar uma coisa “bela” diante das diversas possibilidades de se imaginar formas igualmente coerentes e consistentes com os modelos matemáticos, embora divergentes entre si.

Por outro lado, uma abordagem mais natural das artes, como a elaborada por Aristóteles, na Retórica e Poética, conseguiria tornar compatíveis suas concepções metafísicas com a finalidade das artes em imitar, ou mesmo aperfeiçoar, os melhores objetos observados na natureza, de acordo com sua matéria e forma.

Começo, Meio e Fim

Ao longo de toda sua obra, Aristóteles procurou manifestar suas ideias sobre a criação e produção de objetos de acordo com seu fim. Dos Poetas (360-340 a.C.) é o segundo diálogo que lhe foi atribuído. Deste, sobram apenas oito fragmentos, onde se percebe a preocupação com o estudo filosófico dos problemas técnicos dos poetas, bem como com o registro dos primeiros autores em cada gênero literário. Em outro trabalho inicial perdido na maior parte, Protréptico (Exortação, 355-347 a.C), nos 22 fragmentos que restaram, já se procura distinguir o acaso e a técnica, da natureza, que precede à criação e produção humana em termos de matéria e forma [1], enquanto procura convencer ao rei de Chipre, Temison, a estudar filosofia. A exortação foi redigida por sugestão de seu amigo cipriota Eudemo. Entre outros assuntos, sua concepção de arte serviu de base para outras formulações desenvolvidas em outros textos importantes – de Ética a Nicômaco e Metafísica até Poética (360-326 a.C.), um de seus últimos trabalhos. Diógenes Laércio (séc. III) cita, ainda, em sua listagem de obras do estagirita, mais seis outros títulos relacionados ao belo e à técnica perdidos com o passar dos anos.
De Poética, sobrou o primeiro livro, com cerca de 27 capítulos, alguns incompletos ou intercalados fora do lugar original. A despeito disso, fica claro o interesse de Aristóteles com a criação de obras consideradas artesanais, fruto da habilidade humana, embora não se tenha de fato uma formulação teórica completa e concatenada do que se considera atualmente, como estética – teoria da arte e do belo.
Na antiga língua helênica, o termo techne (técnica ou arte) tinha uma concepção abrangente do fazer humano. Aristóteles, por sua vez, compartilhava dessa compreensão e não brigava com seus contemporâneos, técnica ou arte tinham a mesma abrangência na linguagem ordinária como na discussão estética da produção artística. Para os helenos, techne significava a “capacidade de produzir um objeto qualquer”. Na Ética a Nicômaco, aparece ao lado das “virtudes dianoéticas”, aquelas disposições de caráter dotadas de conhecimento e razão. Ao lado das ciências (episteme), da prudência (phonesis), sabedoria (sophia) e do entendimento (nous), a técnica era uma das atividades pelas quais a alma (psiche) poderia exprimir a verdade [2]. Fazia isso, através da invenção e geração de um modo de produção de alguma coisa, cujo princípio se encontra na própria técnica e não no produto fabricado [3].
Para tanto, a técnica partiria de um conjunto de experiências particulares de onde se extrairia um juízo universal, que pode ser aplicado aos objetos específicos gerados. Nisso, os técnicos ou artífices superariam aos empíricos, cujo saber se limita apenas às experiências adquiridas, mas não conhecem a causa que permite a distinção dos casos particulares. A técnica ficaria, então acima do conhecimento prático e abaixo do científico e filosófico – que seria aquele que domina as causas e distingue desta qual seria a primeira [4].
Assim, Aristóteles e seus contemporâneos tinham na técnica ou arte, essa noção de capacidade de produção de coisas úteis ou não. A técnica poética, então, era a possibilidade humana de se criar e realizar um produto (poiesis). Tal ato de criação seria tão mais perfeito à medida que se aproximasse de sua finalidade adequada, a imitação do que ocorre na natureza. Ou seja, a técnica é um ofício que visa imitar a natureza no intuito de competir com sua criação em busca de uma perfeição que possa até mesmo superá-la. A obra artificial, não obstante, sempre fica aquém da perfeição natural, embora, por vezes, possa contribuir para a natureza atingir seu fim.

Pois, a natureza não imita a técnica, senão esta à natureza. A técnica existe também para ajudar a levar a cabo o que a natureza deixou de fazer (…), como ocorre na germinação de algumas sementes (…) que precisam da técnica agrícola para brotarem (ARISTÓTELES, Frg 11, apud IÂMBLICO, Protrepticus, cap.9, p. 49)

O fim do ser humano seria refletir e contemplar a perfeição orgânica de sua natureza [5].

Arte Figurativa

A definição de arte, como técnica, a “capacidade de produzir algo que imitasse o fim natural”, não era original para os helenos antigos e já havia sido presumida por Platão, que condenava os artífices por causa de suas cópias de cópias imperfeitas. Além disso, restringia as considerações estéticas apenas às obras figurativas, de coisas que se reproduziam de fenômenos existentes na natureza. Ficavam de fora dos afazeres estéticos, toda abstração e as coisas geradas ao acaso, sem uma causa necessária e nenhuma finalidade. A verdadeira técnica teria de comportar princípios e fim (objetivo), como diria Aristóteles. O acaso ou o azar não produziriam nenhum bem – a não ser por acidente -, ao contrário da arte e da natureza [6].
Para Aristóteles, cada objeto na natureza teria um fim (telos) que se refletiria em uma perfeição orgânica e criadora. Caberia ao artesão, como autor, buscar a melhor concepção de sua obra e até mesmo superar a natureza. Ao contrário de Platão. Aristóteles admitia a imitação como um propósito válido. Para Platão, “todas as obras de imitação se afiguram ser a destruição da inteligência dos ouvintes ignorantes, pois estariam a três pontos afastados da realidade”, considerando que exista um mundo ideal, único verdadeiro, um outro de aparência de realidade e o terceiro de cópia mimética do segundo [7]. Porém, em Protréptico – apesar de ter sido iniciado no tempo em que Aristóteles ainda frequentava a Academia -, as ideias de valorização da técnica e dos autores que conseguissem realizar bem seu trabalho apresentadas se mantiveram até a redação de Poética, no final de sua carreira filosófica. Aristóteles concebia a experiência e a observação das causas e dos fins naturais como atividades importantes para a reflexão correta das coisas. Em suma, a ciência contemplativa permitiria que os ofícios fossem exercidos a partir de seus próprios princípios e do conhecimento adquirido [8].

Ainda no contexto do Protréptico, o ofício do filósofo seria o único que permitiria encontrar leis consistentes e produzir coisas belas, pois “é o único que vive observando à natureza e à divindade” [9]. Assim, à luz da filosofia, as vantagens em se contemplar e fazer coisas conforme seu fim natural seriam a de se ter uma vida mais longa e correta [10]. A exortação da filosofia elevou tal atividade a uma disposição racional e contemplativa da natureza de caráter máximo – a melhor e mais bela profissão humana. A partir dos textos sobre a ética, a distinção das virtudes morais e intelectuais (dianoeticas) fica mais clara. Quando a Poética foi escrita, o autor e artífice passou a estar completamente livre de um comprometimento ético. Sua função se restringiu a um atento olhar sobre as ações humanas, as quais deveriam ser descritas ou configuradas de modo o mais fiel possível a sua finalidade natural, na produção de narrativas ou reprodução de fatos históricos. Poemas que poderiam ser obras escritas, pintadas ou esculpidas.

A Poética

A palavra poema, do mesmo modo que techne, tinha um significado amplo para os antigos helenos. Assim, eram denominados os objetos produzidos pela técnica. Ou seja, poema era todo produto realizado pela habilidade humana. A poética era, portanto, a maneira pela qual as coisas artificiais eram feitas. Dois tipos de técnicas específicas mereceram a atenção de Aristóteles em sua obra, por causa de sua influência na comunidade e, por conseguinte, na politica: a rhetorike (retórica) e a poietike (poética). A técnica da retórica trata das formas como os discursos são construídos, a fim de convencer juízes e o público nas assembleias, ao passo que, a da poética era destinada, por Aristóteles, para a produção de obras, passíveis de encenação, que narrassem uma história, em um teatro, ou em uma representação pictórica ou escultural.
Nos textos de sua maturidade, Aristóteles definiu a boa técnica como aquela que fabricaria bons produtos a partir da observação racional da experiência, de acordo com sua causa final. Os técnicos ficariam, no entanto, entre os empíricos – que dominam a experiência, mas não seus princípios – e os cientistas – que conhecem a causa primeira de todas as coisas. Em Peri Poietikes (Sobre Poética), o conhecimento prático visa construir obras que reproduzam as ações humanas, seja em situações épicas, trágicas ou cômicas. O poema constitui, então, o resultado desta produção a ser tratado e disposto em um palco, perante o público. Seu objetivo seria imitar os feitos de personagens lendários da tradição e históricos, sem ter, entretanto, a obrigação de copiar fielmente os fatos, pois o principal interesse estaria na elaboração verossímil de suas façanhas, cujo fim a natureza poderia ter deixado de realizar nos fatos verídicos [11]. Depois de definir a técnica como uma capacidade intelectual de criar coisas cujo princípio está na mente do autor da obra, resta estabelecer os critérios pelos quais se pode produzir um coisa bela. A Poética pretende, nesse sentido, mostrar como isso é atingido, sobretudo, pelos autores de textos teatrais que pretendam encenar suas peças. Algumas dessas orientações são passíveis de ser estendidas às artes plásticas (escultura e pintura), embora, o livro I remanescente estivesse voltado principalmente para as questões literárias de como realizar um roteiro consistente e coerente.
O objetivo do livro, em primeiro lugar, é estabelecer o método de produção de belos poemas [12]. Isso no entanto depende do recurso empregado; do objeto que se pretende fazer do modo como se produzirá. Em geral, as técnicas de confecção de uma narrativa imitam conforme o ritmo, a linguagem e a harmonia. A música usa o ritmo e a harmonia; a dança, o ritmo; as obras literárias, a linguagem; enquanto a pintura cria por meio de cores e do traço, em suas obras. Nas artes plásticas, a figura é tão importante para o objeto produzido como o enredo é para os textos de ficção [13].

Os seres humanos aprendem suas primeiras lições por imitação. Esta agrada e provoca admiração em que a vê. Seu desenvolvimento é natural na espécie. Entre os helenos, os textos e os versos se tornam mais complexos. Depois do aparecimento da comédia, em seguida vieram a epopeia e a tragédia. A cada nova inovação o texto evoluia da declamação à encenação teatral. Homero (séc. VIII a.C.) fora pioneiro na elaboração de epopeias – Ilíada e Odisseia. A tragédia, segundo Aristóteles, evoluiu dos cantos nas festas dóricas dedicadas ao deus Dionísio, enquanto a comédia apareceu nos cantos fálicos das aldeias da Cilícia (sul da Ásia Menor) [14].

Apoteose de Homero (1827), por Jean Auguste Dominique Ingres (1780–1867).

A Tragédia

A tragédia reproduz uma linha de ação única e completa com uma expressão grave que pretende causar terror e comover a plateia, a fim de gerar a catarse, ou purificação da alma. Para tanto, compõe-se de seis partes: a narrativa, que imita a ação; os caracteres dos personagens; a elocução que se desenvolve na interpretação nos palcos; no argumento racional; na produção cênica e sua trilha sonora (melopeia) [15].
A narrativa dos fatos é a parte mais importante desse gênero. A imitação das ações durante a história é a principal causa da tragédia. Sem ação esta não existe. Os personagens representam características morais distintas, mas seus atos precisam está bem concatenados para o drama subsistir. O texto da narrativa é a base que resiste sem os outros componentes, pois depende apenas da competência de seus autores [16].
Para ser integral, uma tragédia deve descrever toda ação do começo ao fim, sem saltos narrativos. Sua beleza reside no ordenamento dos atos e sua duração adequada, que não deve se estender além do que a memória consegue acompanhar. Toda a peça tem que se passível de uma recordação que visualize os passos do enredo. Uma boa história não pode ser tão curta que seja imperceptível, nem tão longa que se perca sua perspectiva [17]. Essas limitações permitem a compreensão do significado do todo [18].
Na tragédia clássica, ademais, há quatro divisões principais: o prólogo; o episódio; o êxodo ou saída e o coral que se subdivide em duas aparições, uma no início (párodo) e outra no final, com o canto fúnebre em conjunto com os personagens e os músicos (kommos ou estásimo) [19].
A tragédia mais bela é complexa. Porém, busca um fim único, com os personagens principais passando da felicidade para infelicidade, a fim de provocar terror e compaixão que vão purgar as emoções do público. O destino dos personagens é determinado pelos erros cometidos de boa fé. O que resulta em um final triste [20]. Os personagens sofrem as consequências de seus atos intencionais ou não. Tal reconhecimento é adquirido no momento em que executa a ação. A falta de atitude dos personagens é característica de textos de baixa qualidade [21]. Por outro lado, são de boa qualidade quando a ação decorre de escolhas planejadas e necessárias. Em seguida, vêm aquelas que limitam as ações devido ao aspecto físico; conforme a verossimilhança e coerência de caracteres. Os efeitos especiais cênicos, como deus ex-machina, devem ser evitados em uma boa história. Tais recursos são tolerados apenas em tramas paralelas que não interfiram na condução da linha principal [22].
O reconhecimento causado por sinais ou marcas é típico de obras de má qualidade técnica. Fica melhor fazer o reconhecimento na ação de forma direta. Outras maneiras de se fazer uma descoberta é pela recordação. Contudo, a técnica de maior refinamento ocorre quando o raciocínio dos personagens leva a uma conclusão correta. O paralogismo, do qual fazem uso os sofistas em seus discursos, correlaciona fatos oculto que ainda não aconteceram na história e portanto torna o pensamento obscuro. O silogismo, no entanto, é o modo perfeito de se estabelecer o reconhecimento dos eventos em uma narrativa [23].

Os enredos devem ser escritos sem contradição. Nesse sentido, a experiência do autor sobre a realidade é fundamental. Os princípios gerais passam, assim, para os casos particulares de maneira coerente. Além desses critérios, outros são elencados pela Poética. O e o desenlace são desses momentos considerados cruciais na tragédia. Os nós fazem com que a trama se desvie da narrativa que vinha sendo seguida e o desenlace se produz após o último da história ter acontecido. A partir desses elementos, segundo Aristóteles, poderiam ser realizadas quatro tipo de tragédias: a complexa, com peripécia e reconhecimento; a catastrófica, quando um acontecimento patético (emocionante) provoca o sofrimento ou morte em cena; a de caracteres; e a composta por episódios. Embora as tragédias possa ser complexa e ter vários episódios, diferente da epopeia, que tem várias linhas de ação, elas seguem uma narrativa única [24].

A Epopeia e outros Gêneros

A maior parte do livro I da Poética está voltada à tragédia, poucos capítulos falam da epopeia e apenas um da comédia. O restante – quase a metade do que sobrou – procura estabelecer critérios para a criação e o desenvolvimento de um belo texto literário. A antiga comédia imitava os maus costumes de pessoas inferiores. A ela é dedicada apenas o quinto capítulo da Poética e se presume que o segundo livro fosse abordar de modo mais detalhado sua composição, assim como os demais tipos de textos literários conhecidos ao tempo na antiguidade. Ao contrário das tragédias, as comédias sempre terminavam com um final feliz
A epopeia fora tratada no livro I, sempre em comparação à tragédia. Tal como esta, visava imitar as ações de pessoas melhores, de caráter nobre. A epopeia antiga abrange em um enredo mais amplo – com diversas tramas paralelas – os atos heroicos de seus personagens, enquanto a tragédia restringia sua ação ao período de um dia e uma noite [25].
Sobre a epopeia recairia a mesma ordem cronológica dos fatos, com começo, meio e fim contendo toda a ação narrada. Os vários dos quais é composta podem ocorrer sem levar ao mesmo fim da trama principal. Para fazer sentido, os autores de epopeia procuram então privilegiar uma linha de ação completa, como ocorre na tragédia [26]. Por sua grandiosidade, a epopeia pode dispensar a música e até mesmo a encenação, pois sobrevive apenas com o texto e suas peripécias e catástrofes, em um estilo eloquente.

Na epopeia, muitos cantos podem ser sobrepostos. A postura heroica é mais grave e ampla, diferente da tragédia. Nesse sentido, os exageros da obra costumam atrair um grande público, apesar da epopeia se direcionar ao gosto mais refinado. Entretanto, por evocar uma ação mais restrita, sem os excessos na encenação, a tragédia pode superar a epopeia, na busca de um final que provoque compaixão e medo em uma plateia de caráter elevado, gerando a catarse.

Uma Crítica Literária

A despeito das suas lacunas, a Poética representa o mais valioso ensaio de crítica literária que restou da antiguidade. Estabelece conceitos que antes ficavam no senso comum. A técnica ou arte, em sua tradução latina, é uma capacidade produtiva que os artesão possuem – desde o médico ao pintor de parede. Poesia é o produto resultante do trabalho do técnico ou artista. Essas duas acepções, embora tenham sido extraídas da própria língua helênica, e seus derivados são bases importantes ainda na era atual, quando se discute o significado e o papel da arte contemporânea.
O objetivo de imitar a natureza era algo que Platão e seus seguidores admitiam, apesar de criticarem seus efeitos negativos na sociedade, sobretudo no que se refere aos autores de ficções. Aristóteles percebeu aspectos positivos que esse tipo de simulação permitia, como a superação de sentimentos traumáticos via catarse e o aperfeiçoamento de tendências naturais que, de outro modo, ficariam inacabadas (realização do telos). Ou seja, a técnica poderia ajudar a natureza atingir seus fins.
A consolidação da poética como técnica de produção de textos literários foi uma contribuição à especialização da techne. Outra inovação fundamental foi a distinção clara de gêneros artísticos, bem como a descrição de suas estruturas e origens, apresentando os métodos pelos quais se conseguiria melhores efeitos sobre o público. O destaque dado à verossimilhança, a crítica ao grotesco, ao artificialismo do deus ex-machina e a definição de conceitos como peripécia, catarse, catástrofe, entre outros, forneceram suporte a uma crítica literária mais profunda.

Sem embargo, a noção de beleza aristotélica ligada às proporções e padrões humanos carece de uma devida argumentação que só foi enfrentada depois de formulações relativistas acerca de escolhas estéticas feitas pelas pessoas terem sido explicadas – veja A Busca por Padrões. O belo se afirma como sendo expressão do gosto humano, tal como as críticas antropológicas feitas desde os pré-socráticos. Aristóteles, do mesmo modo que Platão, não conseguiu resolver o “problema do belo”. De fato, um dos problemas insolúveis da razão que permanecem sem uma resposta satisfatória, por mais que se procure cercá-los. Resta a solução provisória, que não é aristotélica, de uma intersubjetividade de um gosto com pretensão de universalização, incapaz de se justificar ultimamente.

Notas

1. Veja JAEGER, W. Aristoteles, cap. IV, p.94.
2. Veja ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, Liv. VI, cap. III, 1139b.
3. Veja ARISTÓTELES. Op. Cit., idem, cap.IV, 1140a.
4. Veja ARISTÓTELES. Metafísica, Liv. I, cap. I, 981b a 982a.
5. Veja JAEGER, W. Op.Cit., cap. IV, pp.92-94.
6. Veja ARISTÓTELES. Op.Cit, idem, idem.
7. Veja PLATÃO. República, Liv. X, 595b e 597e.
8. Veja ARISTÓTELES. Protréptico, Fr. 13, apud, IÂMBLICO. Op.Cit., p. 54.
9. Veja ARISTÓTELES. Protréptico, Idem, idem.
10. Veja ARISTÓTELES. Protréptico, Fr. 14, apud, IÂMBLICO. Op.Cit., p. 56.
11. Veja ARISTÓTELES. Poética, Liv. I, cap. VII, 1451a e cap. IX, 1451b.
12. Veja ARISTÓTELES. Op.Cit, Liv. I, cap. I, 1447a.
13. Veja ARISTÓTELES. Idem, Liv. I, cap. I.
14. Veja ARISTÓTELES. Ibdem, cap. IV.
15. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap. VI.
16. Veja ARISTÓTELES. Ib., idem.
17. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap. VII.
18. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap.VIII.
19. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap.XII.
20. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap.XIII.
21. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap.XIV.
22. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap.XV.
23. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap.XVI.
24. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap.XVIII.
25. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap. V.

26. Veja ARISTÓTELES. Ib., cap. XXIII.

Referências Bibliográficas

ARISTÓTELES. Protréptico in Eikasia. Revista de Filosofía, ano V, Nº 30 (janeiro 2010). Disponível na internet via http://www.revistadefilosofia.org.
____. Ética a Nicômaco. – São Paulo: Abril Cultural, 1973.
____. Metafísica. – São Paulo: Abril Cultural, 1973.
____. Arte Retórica e Arte Poética. – Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
DIÓGENES LAÉRCIO, Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres – Brasília: UnB, 1977.
JAEGER, W. Aristoteles. – México, D.F: Fondo de Cultura Económica, 1997.
PLATÃO. A República. – Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1990.
ROSS, D. Aristotle. – Londres: Routledge, 1995.

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