Velhice

E hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude está em casa, guardado por Deus, contando seus metais. (BELCHIOR, A.C. “Como Nossos Pais”)

O verdadeiro caráter de uma pessoa revela-se na velhice. Os que não tiveram a sorte de avançar nos anos não puderam aprimorar suas virtudes, nem corrigir seus vícios com a experiência. Aristóteles não fazia uma concepção favorável sobre o temperamento dos velhos, em geral. Uma visão diferente da de seu antigo mestre, Platão, que admitia vantagens em envelhecer, desde que com sabedoria.
Para Aristóteles, no entanto, depois de atravessar a metade da vida, em geral, as pessoas passam a ter uma postura oposta a que tinham quando jovens. Isso, devido a muitos erros cometidos e decepções sofridas ao longo dos anos. A sucessão de fracassos ensinaram a cautela e minaram a confiança no desenrolar das tarefas. Perdem a paciência com facilidade, por não terem mais tempo a perder. A constante recorrência ao passado vem da falta de esperança no futuro. A aparente temperança é um verniz que disfarça a fraqueza de vontade em algum desejo que não pode ser mais satisfeito ou se traduz no apego às coisas duramente conquistadas. Na visão pouco caridosa que tinha da velhice, Aristóteles lhe atribui, em A Arte Retórica, todo o contrário da jovialidade, em sua disposição frequente para lamúrias [veja ARISTÓTELES. A Arte Retórica, liv. II, cap. XIII].

Diferente de seu ex-aluno, Platão, no primeiro livro de A República, traçou um perfil mais variado do comportamento das pessoas idosas. Através do personagem Céfalo, constrói um exemplo de velhice saudável e digna dos elogios que o acúmulo de experiências bem sucedidas podem proporcionar. O que não quer dizer que a excessão representada por Céfalo ofuscasse a maioria de pessoas da mesma idade – cerca de sessenta anos – que se queixa e lamenta das dores sofridas e do esforço por continuar vivendo. Enquanto muitos de sua geração se afligiam com a perda dos prazeres e do vigor da juventude, o velho sábio saudaria a libertação da tirania que é a busca incessante por divertimento, sobretudo, os sexuais [veja PLATÃO. A República, 329c]. Céfalo, ao contrário de tantos outros, sentia-se livre dos hábitos furiosos adquiridos e gerados pelo corpo. Uma conduta mais equilibrada, de acordo com suas forças atuais, fazia da velhice uma etapa naturalmente suportável às pessoas de bom senso. E não apenas por causa de uma suposta riqueza e dos bens guardados ao longo da vida, mas principalmente porque sem sabedoria nada disso seria útil, muita coisa disperdiçada e as lamentações continuariam tanto no velho rico, como no pobre [veja PLATÃO. Op. cit., 330a].

Os Imprescindíveis

Como afirmaria Aristóteles, mais tarde, Platão reconhecia, através de Céfalo, as aflições e temores que se tem depois de uma longa jornada. A riqueza ajudaria a suportar as carências de quem não tem mais vigor para trabalhar. A sabedoria adquirida permitiria fazer bom uso dos recursos guardados, garantindo a independência de quem soubesse aproveitá-los melhor. Sem a sabedoria, no entanto, as mentiras e todo tipo de subterfúgios não seriam bastante para assegurar uma vida agradável aos mais velhos [veja PLATÃO. Idem, 331b].
A figura de um ansião sábio delineada por Platão contrasta com a imagem do velho mesquinho descrita por Aristóteles. São raros aqueles que conseguem atravessar o tempo sem perder seus princípios, enquanto mantêm uma firmeza de caráter. A realidade dá razão ao fundador do Liceu. Durante a pandemia fabricada em um laboratório chinês com verba pública fornecida por burocratas estadunidenses, o que mais se viu foram pessoas que na juventude bradavam por liberdade e democracia defenderem o autoritarismo sanitário, a perseguição de cidadãos saudáveis que se levantaram contra as medidas arbitrárias, a censura e confinamento de quem discordasse das falácias de autoridade que serviram de base para deliberação de ações contra o mal. Muitos velhos pusilânimes, que na juventude cantavam por um mundo livre e direitos humanos, se aliaram ao terror totalitarista de governos ocidentais tirânicos que pretendiam aumentar seu controle social. Velhos mesquinhos, que no passado pediam para que toda autoridade fosse questionada, aceitaram bovinamente quarentenas forçadas, duvidosas vacinas experimentais aplicadas em cobaias humanas constrangidas a injetá-las, sob ameaça de perda de emprego e segregação social, tipica de regimes fascistas e comunistas.
Todo noticiário da imprensa marrom esteve comprometido em aumentar os lucros da indústria farmacêutica e na promoção de políticos demagogos e inescrupulosos, a respaldar suas contradições e violação dos direitos mais básicos dos indivíduos. Desmascarou-se, então, a face de velhos covardes que demonstravam seu verdadeiro péssimo caráter – falsos democratas que defendiam os direitos inalienáveis, rapidamente, passaram a violá-los, com o apoio de juízes carruptos.

Poucos foram os que se mantiveram íntegros, fazendo valer seus princípios liberais adquiridos desde a juventude. Muitos foram silenciados ou obrigados a se retratarem. Os idosos que continuaram a defender a liberdade dos outros e a combater os neofascistas, inimigos dessa liberdade, representam, de fato, os velhos sábios que permaneciam conscientes e livres das ameaças alheias a seus recursos. Tal como Céfalo de Platão, imprecindíveis, em sua luta incessante pelas as ideias de liberdade que fundamenta a dignidade humana.

Referências Bibliográficas

ARISTÓTELES. Arte Retórica, trad. Antônio P. de Carvalho. – Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
BELCHIOR, A. C.. “Como nossos Pais”, 1976.
ESOPO.Æsop’s Fables. Trad. de Samuel Croxall. – s/l: Chiswick Press, 1814.
PLATÃO. A República, trad. Mª Helena da R. Pereira. – Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1990.

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