Origem, Desenvolvimento e Conteúdo da Metafísica

OUTRA interpretação da Metafísica fixa-se em uma perspectiva histórica do texto, tentando assim contextualizá-lo sem anacronismos. Werner Jaeger (1888-1961), em seu famoso livro Aristóteles, procurou resgatar a estrutura original desses livros cruciais do aristotelismo e seu desenvolvimento posterior. Considerou que os livros mais antigos começam pelos do final da edição clássica, ou seja, os livros M e N (XIII e XIV).
Na Metafísica original, ainda se perceberia um platonismo em Aristóteles, pois teriam sido escritos logo após a morte de seu principal mestre. As críticas direcionada à Academia visavam atacar os rumos teóricos adotados pelos sucessores de Platão, na sua direção (Espeusipo e Xenócrates). Aristóteles era contra a separação das ideias universais do particular. O real é o universal do particular. Criticava a teoria dos números de Espeusipo e Xenócrates; e sua vinculação ao platonismo não o impediu de apontar o dilema em relação aos conceitos de “substâncias múltiplas” e “única substância”. Para Aristóteles, o universal não poderia ser uma substância. Assim, ou se recusam as substâncias para explicar as realidades permanentes, ou se admite a separação de dois mundos e as consequentes dificuldades da derivação dos princípios. Não obstante, segue a ideia platônica de que o bem em si deveria realizar-se por si mesmo. A discussão dos dois últimos livros revela a divergência existente entre os próprios platônicos, dos quais Aristóteles fazia parte.
Cronologicamente, Jaeger dividia a Metafísica da seguinte forma: os primeiros livros seriam os dois últimos, M e N; o livro XII (lambda), que trata de uma cosmologia apresentada em curso à parte, traz uma teologia desenvolvida sobre o conceito de motor imóvel e Deus único; os livros de B a E (III a VI) investigam a existência do real suprassensível, tentando reabilitar as ideias fundamentais de Platão; de Zeta a Teta (VII a IX), um corte na edição insere a doutrina das substâncias particulares e universal, sem fazer uma continuidade com os livros anteriores.
Iota seria uma conclusão das ideias de B e E, mas fala dos contrários, do uno e da díade imperfeita). Um resumo dessa busca do suprassensível está em K (livro XI). Outros textos inseridos sem ordem são alfa menor, com um comentário de um aluno; A (liv. I), que traça a primeira história da filosofia, provavelmente escrito logo depois da Física; e o glossário de delta (liv. V).
Em seu teor, essa estrutura da Metafísica apresenta como conteúdo em Beta a descrição dos problemas que a ciência primeira deve enfrentar; os seus objetos; os gêneros unidos ou separados; a unidade do ser. Gama busca os princípios e as coisas definidas; o ser em si; os princípios de “não contradição”; a refutação do niilismo; estuda a sensação; subjetividade; e discute o princípio do “terceiro excluído”. Épsilon investiga a ciência universal; os acidentes; a causalidade; a dialética e a verdade e falsidade semânticas; a substância dos números; o particular e o universal. Zeta define os significados do ser; as substâncias; a substância como matéria; outras definições; a essência; a coisa; a natureza e a arte; a matéria e a forma; geração das coisas; parte e o todo; a definição da essência; os gêneros; as substâncias particulares; as formas separadas; a relação entre ideias e o concreto; as substâncias partidas; a causa do ser. Heta faz uma recapitulação; fala da substância sensível; dos seres e do número; da matéria e o eterno; dos contrários e unidade do ser. Teta apresenta a concepção de potência; das potências racionais e irracionais; da implicação; detalha a potência racional; o conceito de ato; o sujeito e o substrato; se o ato vem antes da potência; o mal e a verdade.

A teologia de Lambda parte das três substâncias; passa pela substância sensível; os tipos de substâncias; da causa motriz; dos princípios sensíveis; do movimento; do bem e deus; da substância única; o pensamento divino e o monismo do espírito. As definições das quatro causas e de algumas categorias aparecem, então, no livro Delta.

Referências Bibliográficas

ARISTÓTELES. Metafísica; trad. Leonel Vallandro: – Porto Alegre: Globo, 1969.
JAEGER, W. Aristóteles. – México D.F.: Fondo de Cultura Económica, 1997.

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