Quando um Presidente Fala

“Os tolos gostam de se empolgar a cada palavra”
(HERÁCLITO apud PLUTARCO. Do que se Deve Ouvir, 7, p. 41a)

Localização dos Lobos Temporais

Nos lobos temporais esquerdo e direito, o segredo do mentiroso bem sucedido

Os afásicos e os aprosódicos (ou agnósios) têm pelo menos uma grande vantagem sobre quem não tem lesões cerebrais: não se pode mentir para eles. Os afásicos porque, embora não possam entender as palavras, conseguem, sem embargo, perceber a autenticidade daquilo que lhes é dito pelo tom de voz, cadência e gestos do falante. Por outro lado, aqueles que não compreendem as falas emotivas ou simuladas – os aprosódicos – dificilmente são enganados pela interpretação das palavras, pois procuram compensar essa brecha prestando total atenção aos aspectos formais da linguagem, à escolha adequada dos conceitos colocados e seu emprego apropriado no contexto linguístico.
Oliver Sacks, famoso neurologista estadunidense, os apresenta como portadores de distúrbios no lobo temporal esquerdo, no caso dos afásicos, ou no lobo temporal direito, os agnósios com aprosodia, em “O Discurso do Presidente”, artigo inserido na coletânea O Homem que Confudiu sua Mulher com um Chapéu (1985). Lá um paciente aprosódico detecta com precisão o comportamento de um político demagogo:

“Ele não é convincente (…) não fala em boa prosa. Emprega as palavras de maneira imprópria. Ou ele tem uma lesão no cérebro ou quer esconder alguma coisa” (Apud SACKS, O. O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu, part. I. cap. 9, p. 88)

A verdadeira compreensão do significado das palavras não se reduz à definição ou apenas no seu uso declarativo, na emoção, na expressão enfática, ou sua evocação. A maioria das pessoas se deixa enganar por ilusões ou compromissos inconfessáveis. Quem quer acreditar nas mentiras de corruPTos e DEMagogos certamente será “enganado”. Mas o emprego de discursos fantasiosos se trai pelo timbre da falsidade e não convence as pessoas mais atentas que não compartilham do mesmo “credo” político, nem os pacientes com lesões nos lobos temporais.
Diferente da afasia almejada pelos antigos céticos no silêncio de quem cala, este distúrbio neurológico não leva à abstenção do juízo ou incapacidade de opinar. Pelo contrário, ajuda a levantar muitas hipóteses sobre as disposições de caráter e intenções dos sectários políticos pretensamente considerados sãos.

Corrupção Mata Também no Haiti

Mapa da Ilha Hispaniola

Ilha Hispaniola (76,5 mil km²), Grandes Antilhas, América Central

Pequenos tremores abalam o Haiti com frequência. Eventualmente, um terremoto de grande magnitude destrói parte das construções. Há seis anos (desde 2004), o governo brasileiro passou a ser responsável pelo comando das tropas de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) estacionadas naquele país assolado pela indigência e corrupção. Durante esse tempo, era de se esperar alguma melhora ou uma mudança nas condições políticas e sociais do lugar. Entretanto, as medidas paliativas tomadas pelas autoridades brasileiras no pouco que fizeram vieram abaixo como um “castelo de cartas” chacoalhado na base.
O Haiti voltou então a experimentar seu incessante ciclo de miséria – corrupção – desastres naturais. O mesmo círculo macabro vivido por diversas regiões espalhadas pelo Brasil reproduziu-se em escala catastrófica na parte ocidental da ilha Hispaniola. Em um cenário internacional, repetiram-se a omissão e a incompetência política, as quais os brasileiros estão acostumados.
Depois de mais de meia década de estagnação, retorna o Haiti à estaca zero, solapando a pretensão do Brasil vir a ocupar um inútil assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, por total irresponsabilidade do governo corruPTo e DEMagogo que assola o país.

“Todos os homens sobre a terra permanecem longe da verdade e da justiça, por causa de sua miserável loucura devotam-se sofregamente à satisfação de suas ambições e sede de popularidade” (HERÁCLITO, apud DIÓGENES LAÉRCIO, Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, l. IX, c. 1, § 14, p. 254)

Corrupção Mata

Mapa de Ilha Grande

Ilha Grande, Baía de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Brasil

Todo verão, no Brasil, as chuvas vêm e causam uma série de desastres urbanos ou rurais. Os governos municipais, estaduais, e fererais omissos se recusam a cumprirem suas obrigações de prevenirem a ocorrência de tais tragédias previsíveis, arriscando com a vida dos outros. Políticos corruPTos e DEMagogos preferem agir somente depois que o dano acontece, com intuito de promoverem ao máximo suas exposições em público e surgirem como salvadores da pátria.
Verbas destinadas para prevenção de acidentes naturais são contigenciadas e utilizadas apenas entre os favorecidos pelos detentores do poder, enquanto licitações fraudulentas são rapidamente viabilizadas, passando por cima das advertências de laudos técnicos e das reais necessidades do país.
No Brasil, fabrica-se queijo que não derrete; leite com soda cáustica; concreto com areia do mar; lavadoras que sujam as roupas etc… A pior tragédia por aqui é a corrupção que mata em seus atores políticos

Veja:

Prevenção de Desastres teve R$ 91 milhões Bloqueados em 2009
Verbas para Desastres cai pela Metade em 2010
Prefeitura de Angra Descumpriu Ordens do TCE para Demolir Pousada Sankay na Ilha Grande

Culto da Personalidade

Tchapaev, 1934

Filme soviético de 1934 dirigido pelos irmãos Georgi (1899-1946) e Sergei Vasilyev (1900-1959)

Adolf Hitler (1889-1945) e Iossif Vissarionovich Dzhugashvili, vulgo Stalin (1879-1953), tiveram, em vida, filmes realizados para que pudessem se mirar como diante de espelhos mágicos que lhes mentiam dizendo “não haver ninguém mais poderoso no mundo do que eles”. Antes de Olimpíada: Festa do povo (1936), Helene “Leni” Riefenstahl (1902-2003) filmou O Triunfo da Vontade (1935), no intuito de celebrizar o congresso do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nazi), onde o fuehrer estrela o grande aparato político que expressava sua mania de grandeza. Mas é Tchapaev (1934), dos irmãos Sergei (1900-1959) e Georgi Vasilyev (1899-1946), que inaugura o culto da personalidade no cinema. A história do popular herói revolucionário analfabeto, simples e carismático que deu nome à película serviu como uma luva para enaltecer as “virtudes” guerreiras, francas e eficazes do novo ditador que assumia com mão de ferro as diretrizes da Revolução que os soviéticos fizeram no sentido de restaurar os ideais de igualdade e fraternidade deixados de lado, pelos liberais ocidentais.
Essas obras de propaganda política, travestidas de arte cinematográfica, levavam às massas aquilo que elas queriam acreditar. A sedução pó uma história que recriava a realidade de uma maneira generalizante que permitia à imaginação da maioria acompanhar o desenrolar dos fatos. Nada das difíceis contradições, coincidências e irregularidades da vida cotidiana, apenas a orquestração dos acontecimentos de modo à explicar a falsa predestinação de seus idolatrados líderes.

“A principal qualificação do líder de massa é a sua infinita infalibilidade: jamais pode admitir que errou. Além disso, a pressuposição de infalibilidade baseia-se não tanto na inteligência superior quanto na correta interpretação de forças históricas ou naturais (…) que nem a derrota nem a ruína podem invalidar porque, a longo prazo, tendem a prevalecer. Uma vez no poder, os líderes da massa cuidam de (…) fazer com que as suas predições se tornem verdadeiras.” (ARENDT, H. As Origens do Totalitarismo, III, cap. II, §1, pp. 82-3).

Se as coisas não vão como o esperado, os manipuladores publicitários tratam logo de mudar os métodos de estatísticas, para que os números se acomodem às predições do líder. Na sequência, as encomendadas enquetes de popularidade reforçam a noção de apoio das massas conquistado pela propaganda oficial. Enquanto o público não estiver totalmente isolado das fontes de informação crítica, a propaganda partidária procura parecer plausível as pretensões dos políticos populistas. A falsificação deliberada faz parte então desse tipo de formação de culto em torno do chefe da organização. Como dizia Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), “é na comunidade da mentira que os líderes e seus liderados se reúnem graças à propaganda” (ADORNO, T., HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento, p. 238).
Quando regimes democráticos estão fragilizados, por sucessivas crises econômicas, políticas e morais, fica fácil para políticos demagogos conduzirem as massas a se identificarem com sua personalidade corrupta. O controle das fontes publicitárias dos meios de comunicação ajuda a eliminar os obstáculos da opinião contraditória isolando o público das informações necessárias para tomada de decisão isenta. O caminho fica aberto ao predomínio da tendência adesista. Assim, a população pode internalizar sem maiores dificuldades os valores mesquinhos do líder, que passam a ser divulgados constantemente sem oposição. Desde a educação infantil aos concursos públicos, a nova mentalidade é implantada sem restrições efetivas.
Eis o ambiente em que floresce o culto à personalidade, a mistificação e a deificação dos políticos de vertentes totalitárias, garantidos pela adoração incondicional de uma maioria alienada.