Cientificismo: a Religião Ateia Científica

SUPERSTIÇÕES e dogmas não são exclusividades de doutrinas teológicas. Entre cientistas e pseudocientistas, existe uma crença que pode ser comparada ao fanatismo religioso. O cientificismo, também conhecido por “cientismo”, é uma ideologia que considera os métodos científicos e suas técnicas experimentais como os únicos elementos dignos de conhecimento. Seja em suas formulações teóricas, pesquisas empíricas ou aplicações à realidade. Um fanático cientificista emprega todo tipo de falácia para defenderem suas ideias absurdas – argumento de autoridade, falsa causa e até mesmo a força bruta, quando contam com apoio de políticos, ditadores e tiranos.
O cientificismo, não por acaso, constitui uma das características marcantes de regimes totalitários, como o comunismo, o socialismo científico, o nacional-socialismo e o fascismo. Uma de suas manifestações mais evidentes ocorre durante epidemias na forma de autoritarismo sanitário que, no Brasil, levou à Revolta da Vacina, em 1904, e provocou o bloqueio econômico nas sociedades democráticas do ocidente, na pandemia do vírus chinês de 2019 a 2021. Crendices sem qualquer fundamento racional obrigaram pessoas saudáveis a se submeterem ao uso compulsório de máscaras e ao bloqueio de suas atividades econômicos, causando todos os tipos de transtornos ao convívio social.
O sensacionalismo e o alarmismo exploraram o medo irracional que as pessoas naturalmente possuem, com a difusão pela imprensa marrom de notícias falsas e informações desencontradas fornecidas por especialistas inescrupulosos, associados a políticos com tendências autoritárias, que encobriam suas incompetências, ignorâncias e interesses escusos, na gestão de uma emergência sanitária. Tudo isso, a despeito dos fatos e contra-argumentos mostrarem a ineficácia das medidas arbitrárias tomadas.

O uso de máscaras é um fetiche que acompanha os cientificistas desde a grande praga de Londres, no século XVII. Mais de 300 anos depois, uma nova pandemia de gripe provocada pelo vírus H1n1 – o mesmo que atacou letalmente a humanidade, em 1918 – foi enfrentada sem que se recorresse ao uso de máscaras ou qualquer restrição aos direitos individuais. Na pandemia de 2009, não foi recomendado o uso geral de máscaras pela população saudável. Apenas as pessoas infectadas e que tivessem contato com estas deveriam utilizá-las, por um curto período de tempo. A preocupação de então era de que o emprego errado de máscaras poderia causar uma falsa sensação de segurança e o agravamento da disseminação da doença.
De fato, o H1N1, mesmo agente patogênico da gripe espanhola de 1918, provocou menos mortes em 2009. Na sua primeira pandemia, o H1N1 atingiu nível 5 de mortalidade, enquanto no século XXI não passou do primeiro nível, sem que nenhuma medida extrema contra os direitos individuais fosse tomada. Isso porque, as condições de higiene e nutrição da população haviam melhorado consideravelmente de um século para o outro.
Além disso, medidas de distanciamento social não foram recomendadas, devido à falta de argumentos racionais para tanto. Apenas os casos em que houvesse contato com pessoas doentes, o isolamento individual foi aceito como válido. Demais ações, como fechamento de escolas e comércio tinham recomendações condicionadas ou rejeitadas totalmente, em 2019 [Veja relatório WHO. Non-pharmaceutical public health measures for mitigating the risk and impact of epidemic and pandemic influenza]. Sobre 1918, relatório de vários países indicaram que as quarentenas não pararam a transmissão do vírus e eram impraticáveis [Veja WHO. Nonpharmaceutical Interventions for Pandemic Influenza, National and Community Measures]. Para efeitos de comparação, em 1918, o H1n1 matou cerca de 5,55% da população mundial (100 milhões de vítimas fatais em 1,8 bilhão), com quarentena e uso de máscaras; em 2009, o mesmo vírus vitimou apenas 0,01% (575,4 mil para 6,85 bilhões da população), sem bloqueios ou máscaras; por sua vez, a pandemia de 2019-21 matou 0,025% das pessoas em 2020 (2 milhões de mortes para 7,75 bilhões de pessoas), com obrigação de máscaras e quarentenas, tornando-se assim duas vezes e meia mais letal do que a última incidência de H1N1.
As contradições e inconsistências dos cientistas não se apagam diante de momentos históricos diferentes. As repetições de erros cometidos no passado fazem com que o ceticismo entorno das suas reais intenções políticas sejam erguidas. A crença cientificista na infalibilidade das ciências foi por essas e outras razões duramente criticada por pensadores da Escola de Frankfurt [Veja ADORNO. Th. “Introdução à Controvérsia sobre o Positivismo na Sociologia Alemã] e pelo químico e filósofo Paul Feyerabend (1924-1994), em Contra o Método (1975), onde sustentava a necessidade de:

a separação entre o estado e a igreja há de ser completada por uma separação entre estado e a ciência, a mais recente, mais agressiva e mais dogmática instituição religiosa (FEYERABEND, P. Contra o Método, XVIII, p. 447).

Thomas Samuel Kuhn (1922-1996), no clássico A Estrutura das Revoluções Científicas (1969), já revelou que os paradigmas ditos científicos não passam de um acordo vigente entre grupos de pesquisadores que adotam determinada teoria em função das disputas internas pela dominância de um campo de investigação específico. O que, na prática, acaba por envolver interesses políticos e financeiros, a fim de garantirem a manutenção e existência do grupo de cientistas, através das verbas obtidas. “Em alguns casos, a implementação de medidas, como restrições de viagem e quarentena, podem seguir os interesses de políticos, em vez de propósitos de saúde pública” já dizia um relatório da Universidade Johns Hopkins, de setembro de 2019.
Uma crise está posta no pensamento científico sempre que este se aferra a dogmas cientificistas obscurantistas. O vínculo entre políticos e pesquisadores com vocação totalitária traz à tona interesses escusos pelo controle social rígido, no intuito de encobrirem a luta pelo poder e seus lucros financeiros, quando na imposição de medicamentos e vacinas da indústria farmacêutica que os patrocinam, que deságuam na implantação de tecnologias de ostensiva vigilância da população [Um exemplo do que acontece na política REUTERS. German lawmaker from Merkel’s conservatives quits over face mask scandal].

 

Referências Bibliográficas

ADORNO, Th. “Introdução à Controvérsia sobre o Positivismo na Sociologia Alemã. – São Paulo: Abril Cultural, 1983.
FEYERABEND, P. Contra o Método. – Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
JOHNS HOPKINS CENTER FOR HEALTH SECURITY. Preparedness for a High-Impact Respiratory Pathogen Pandemic. – Baltimore: Johns Hopkins University, set. de 2019.
KUHN, Th. S. Estrutura da Revolução Científica. – São Paulo: Perspectiva, 1997.
REUTERS. German lawmaker from Merkel’s conservatives quits over face mask scandal. Disponível na internet via https://www.reuters.com/article/instant-article/idUSL1N2L61IL. Acesso em 10 de mar de 2021.
WHO. “Nonpharmaceutical Interventions for Pandemic Influenza, National and Community Measures”. Emerging infectious diseases, 12(1), 88–94, jan 2006. Disponível em https://doi.org/10.3201/eid1201.051371.
____. Non-pharmaceutical public health measures for mitigating the risk and impact of epidemic and pandemic influenza. – Genebra: WHO, 2019. Disponível em https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/329438/9789241516839-eng.pdf. Acesso em 11 de mar de 2021.