Espantalho

A falácia do “homem de palha” ou do espantalho desvia a atenção do tema principal para um secundário ou um aspecto que todos já têm uma opinião formada. Uma estratégia semelhante a da concepção popular de “se protestar contra o bode posto na sala” ou de “se retirar o sofá da sala” como se o retorno à situação anterior resolvesse os problemas que haviam antes. Muito frequente nas discussões parlamentares nas quais um partido, para poder fazer valer suas propostas, ataca problemas de menor importância, apenas para firmar sua participação no debate.
Na polêmica em torno da descriminalização das drogas, se alega os danos possíveis que sua liberação causaria a novos usuários, mas se omite os benefícios oriundos da quebra de uma fonte de renda imposta às organizações criminosas que obtêm suas receitas, sobretudo, do tráfico de drogas.
Ao longo da história, vários acontecimentos serviram de chamariz para desviar a atenção de eventos mais importantes. Desde a perseguição religiosa, em Roma, ao incêndio no Reichstag (1933), na Alemanha, que encobriam a tirania dos imperadores romanos e a ascensão do nazismo ao poder, respectivamente.

Reichstag por volta de 1920. Fonte Depósito de Imagens em Berlim.

Ênfase

Outro tipo muito comum de falácia cometida na publicidade e no jornalismo. Em manchetes e anúncios, onde a ênfase dada muda o sentido dos fatos. Por exemplo, um jornalista publica que o presidente impediu que uma personalidade estrangeira entrasse no país, quando tal celebridade já estava impedida por lei anterior de ter um visto concedido. A propaganda política procura sempre enaltecer as boas ações de seus candidatos, omitindo seu comportamento desastroso em mandatos anteriores.
Um sabão em pó tem publicidade que afirma lavar mais branco, mas que não diz que para fazer isso os componentes de sua fórmula desgastam mais rapidamente as roupas lavadas. Mesmo quando não se omite a informação principal ou muda o significado das palavras, a ênfase dada pode tornar uma expressão verdadeira caluniosa como “Fulano está sóbrio hoje”. Desconfie sempre quando se chama atenção para a nova embalagem de um produto e não se dá o mesmo destaque para o novo peso que foi reduzido.

Nas letras miúdas e nos asteriscos, aquilo que merece atenção.

Efêmero

Denis Diderot (1713-1784) chamava de “sofisma do efêmero” a falácia de alguém que avalia as coisas a partir de seu ponto de vista momentâneo. Na obra O Sonho de D’Alembert, Diderot, por meio do personagem Bordeu, critica a postura de um ser mortal que acredita na eternidade do universo [veja DIDEROT, D. “O Sonho de D’Alembert“, p.100]. O mesmo se percebe em crianças que nunca mudaram de endereço e pensam que sua situação também nunca mudará. Diderot descobriu tal falácia na leitura de Entretien sur la Pluralité des Mondes (1680), de Bernard de la Bouyer de Fontenelle (1657-1757), onde as rosas dizem: “Nós sempre tivemos o mesmo jardineiro, na memória das rosas não se viu nenhum senão este, que sempre esteve como está agora, seguramente ele não morre como nós, ele simplesmente não muda.” [FONTENELLE, B.B. Entretien sur la Pluralité des Mondes. – Paris: Librairie de la Bibliothèque Nationale, 1899, p. 146].

As rosas no jardim de Fontenelle acreditam que seu jardineiro é eterno.

Divisão

A falácia da divisão é a inversão da composição. Aquilo que é verdadeiro em um grupo, pode não ser verdadeiro para seus participantes. O fato do parlamento ser corrupto não quer dizer que cada um dos seus políticos seja. De outro modo, ao se afirmar que a previdência dos funcionários públicos tem uma despesa menor que a do setor privado, um erro surge quando se conclui que o funcionário privado tem uma previdência mais cara, pois os servidores são tratados coletivamente e se supõe que a referência é distribuído por todos igualmente. Proporcionalmente, o setor público tem um gasto muito maior do que o privado, considerando o pagamento individual de cada beneficiário.

Indivíduos se destacam do grupo.

Contra a Impunidade e a Prevaricação

O judiciário brasileiro é um “poder” espúrio, constituído por gente de todo tipo – menos juízes -, sem o voto dos cidadãos, indicada por governos corruPTos. Devido a essa falta de compromisso com aqueles que pagam seus salários e mordomias, tais vassalos promovem a impunidade e a prevaricação constante, ao privilegiar os mais ricos e os políticos corruPTos de todos matizes, que os escolheram para atuarem nas instâncias ditas superiores.

Ou você vai, ou elle volta!

Definição

Um erro de definição surge amiúde da prática de conceituar um termo de modo a favorecer o definidor. Na discussão sobre o aborto, por exemplo, opositores da causa procuram interpretar o termo como “assassinato de uma pessoa que não nasceu”. Os partidários de um político deposto por corrupção definem seu impeachment, obtido legalmente, como “golpe político”. E ainda, um político pode dizer que a propina paga através do financiamento privado de sua campanha é apenas uma “verba não contabilizada” ou simples “caixa 2”.

O artigo 86 da Constituição de 1988 define como são afastados os presidentes da república no Brasil.

Conclusão Irrelevante

Um silogismo falacioso pode levar a conclusões que não estão relacionadas com o que pretende estabelecer, nem com as premissas que as antecedem. Tornam-se, então, irrelevantes seus resultados. Ao se discutir no parlamento a política de segurança, é desnecessário afirmar que a segurança é um direito de todo cidadão, posto que isso já é pressuposto pelas constituições dos estados modernos. A discussão deve evoluir sobre como e quando as ações efetivas deverão ser adotadas. Sempre que uma conclusão diferente daquela a qual as premissas pretendiam chegar for apresentada, ter-se-á cometido um erro de ignorância da listagem (ignoratio elenchi) que foi desenrolada.

A justiça tardia leva a resultados irrelevantes. PÉRICLES de Andrade Maranhão. O Amigo da Onça.

Composição

Quando se diz de algo verdadeiro na parte pode ser estendido a todo o conjunto, o argumento comete uma falácia de composição. As peças de um motor podem ser leves isoladamente, mas isso não significa que o motor, uma vez montado, também seja leve. Uma equipe esportiva composta por bons jogadores, nem sempre é tão boa como seus atletas individualmente. De um modo geral, a confusão se dá por se atribuir a propriedade distribuída entre indivíduos a toda classe a qual eles pertencem. Assim, o caráter de cada cidadão não é o mesmo que o de uma sociedade. Não é válido sustentar que as características de uma parte se transfiram automaticamente para o todo, bem como que meros elementos representem suas respectivas coleções. Cada um fala por si.

A sociedade é composta por indivíduos, não uma composição homogênea. BRUEGEL, P. Brincadeiras de Crianças, 1559.

Compaixão

A falácia da compaixão (Argumentum ad misericordium) faz apelos de misericórdia aos ouvintes. Se difere da patética por atribuir emoções a coisas materiais. Seu erro está na tentativa desesperada de impor a verdade de seus argumentos apoiando se na solidariedade alheia e não na validade de suas inferências. Para conseguir seus objetivos, busca obter a comoção das pessoas. Por exemplo, quando se defende um criminoso alegando que se trata de um “pobre oprimido” pela ganância de uma sociedade consumista ou pelo sistema capitalista.

Apelar à compaixão não ajuda a verdade prevalecer. BOTTICELLI, S. A Calúnia de Apeles, 1495.

Circunstancial

FaláciasTipo de argumento que pede para que se aceite a validade de um raciocínio por causa das circunstâncias em que se está. Como no caso de partidários que defendem as posições de um político só por este pertencer a mesma frente parlamentar, mas quando muda de partido passam a lhe fazer oposição. Ou o voto de silêncio (omertà) em organizações criminosas para não ir contra os interesses de seus membros eventuais. Também a rígida hierarquia das forças armadas que impedem oficiais de patentes inferiores contra-argumentarem seus superiores.

Por vezes, as circunstâncias impedem que um debate franco alcance a verdade. SOGLOW, O. Reizinho.