Um Mesmo Lugar

Artigo de Ética Prática

Ética Prática: Globalização

A formação de grupos sociais explica-se facilmente pelas vantagens proporcionadas pelas estratégias de cooperação, quando se trata de sobrevivência e reprodução da espécie. Os primeiros seres humanos a cooperarem durante a caça e a coleta de frutos logo perceberam a possibilidade de garantir seu sustento no caso de uma adversidade momentânea, através da interação. Entretanto, em pouco tempo, os aproveitadores também entenderam que poderiam tirar proveito daqueles bons cooperadores, sem nada ou quase nada oferecerem em troca. Por conseguinte, novos mecanismos tornaram-se necessários a fim de impedir a exploração da cooperativa por parte dos trapaceiros. Para evitar a sobrecarga e a má reputação dos membros do grupo, algumas características foram marcadas para mais tarde permitirem a identificação mais rápida de eventuais caronas.
O reconhecimento de membros de uma mesma família ou habitantes de uma mesma vizinhança não era muito difícil para grupos iniciais que não ultrapassassem mais de cem participantes. O posterior crescimento populacional tornou indispensável a criação de outros rótulos de identificação que se multiplicavam de acordo com a abrangência territorial ou grau de parentesco. Assim, a família, os parentes, os vizinhos, os amigos, a raça, a nacionalidade e a própria humanidade passaram a servir de credenciais de reconhecimento daqueles que mereceriam um tratamento especial na hora de se repartir os ganhos do empreendimento comum. Agora, que a existência no planeta se encontra ameaçada por vários fatores climáticos e industriais, os demais seres vivos passam a integrar a lista de protegidos, no intuito de salvar a diversidade ambiental. [1].
A preferência pelos mais próximos nesta escala de interesse que vai deste a família, vizinhança, bairro, cidade, estado, nação até alcançar o mundo não tem nenhum valor moral intrínseco. Decorre, no entanto, da estratégia de identificação de aproveitadores que surgiu, ao longo das gerações. Traduz apenas a formação de um dispositivo de discriminação consolidado pela seleção natural e cultural, durante o tempo de existência da espécie. O que não quer dizer que não possa ser refinado ou apagado, em alguns casos, à medida que são aperfeiçoados os métodos de identificação e punição dos caronas. Valores éticos culturais, para atingirem o estágio de juízos morais precisam ter um alcance universal. O valor de uma vida, não se mede pelos graus de parentesco, nacionalidade ou raça, mas, como sugere Singer, pela capacidade dessa vida melhorar o bem estar geral. [2].
Embora tal definição possa levantar algumas objeções por conta de seu aspecto utilitarista, centrado que está na noção de “capacidade para maximizar o bem estar geral”. As pessoas que por algum motivo de ordem física, ou mesmo filosófica, estejam impedidas de realizarem atividades no sentido de ampliar o bem estar da humanidade, ainda que em nada contribuam para sua piora, podem se sentir ameaçados ou diminuídas por esta postura tão elevada. Há bons argumentos para quem eventualmente se recuse a cumprir o dever de salvar a vida de um estranho – desde os riscos para a própria vida até o mérito sobre a responsabilidade de cada um em se pôr na condição de necessitado. A ajuda per capita internacional frequentemente está abaixo dos gastos supérfluos e triviais de cada um. Não obstante, muitas vezes essa ajuda tem estimulado a corrupção e a ambição de grupos políticos pelo controle de uma massa de famintos vulneráveis à exploração grosseira de interesses eleitorais escusos. Nesse sentido, as advertências de John Rawls (1921-2002) sobre a necessidade da ajuda estar vinculada a metas e contrapartidas tornar-se um critério imperativo para eficiência dos resultados a serem buscados de maior equidade.
Razões estratégicas servem de explicações básicas para que em casos específicos se procure ajudar quem está mais próximo do que os mais distantes e não toda humanidade. A defesa da territorialidade é um ponto de vista importante para a sobrevivência de grupos coesos. E, por vezes, a invasão de caronas provoca uma devastação dos recursos limitados, deflagrando a desagregação de uma comunidade que se consolidara em um território particular. Movimentos minoritários e atores multiculturalistas, ou comunitarianos, defendem que o relacionamento pessoal ou comunitário deva ser preservado da uniformização imposta pelos majoritários. [3].
A tradição do liberalismo está em fomentar a assistência humanitária, apesar disso parece intervenção sob a perspectiva ideológica dos países que já sofreram com o processo histórico de colonização. Por tudo isso, é que a discussão intuitiva sobre os princípios de uma moral popular merece uma avaliação crítica e imparcial, a fim de se encontrar um conceito de moral mais amplo e compatível com a complicada situação mundial de nossos dias.

Continua…

Sociedade de Castas

Jostissa

Símbolo da autocracia brasileira

No Brasil, o artigo primeiro da constituição em seu parágrafo único reza que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Entretanto, para o poder judiciário não há eleição ou possibilidade do povo exercê-lo diretamente.

Quando há forte indício de crime que recaia sobre um juiz, este recebe como “punição” administrativa uma aposentadoria paga com o dinheiro arrancado de quem nunca viu o voto. Trata-se de um judiciário autocrático sem nenhum compromisso com qualquer definição de democracia.

Eis um caso exemplar que fala por si mesmo:

Fortes Indicios de Crime Bastam para Aposentar Juiz