Mente Cultural

De um modo geral, os antropólogos sempre trataram a mente humana a partir de uma visão externa, lidando, diretamente ou não, com os produtos da atividade mental remanescentes de uma sociedade. Ao interpretar os eventos culturais de uma civilização, por vezes, os aspectos mentais são também discutidos, seja da perspectiva externalista e exclusiva da antropologia clássica, seja pela associação de outras disciplinas afins. Salvo engano, os antropólogos de ambas posturas, exclusivista ou aberta a novas descrições, tendem a considerar a investigação da ciência cognitiva como algo equivocado, uma vez que a mente nada mais seria do que uma construção cultural.

Racionalidade

De todos os aspectos envolvidos no estudo da ciência cognitiva, o mais central é aquele que diz respeito à racionalidade humana. Os filósofos iluministas, bem como os clássicos gregos, davam grande importância a princípios matemáticos e lógicos, como características definidoras de uma razão bem formada. Ser racional correspondia a ter uma habilidade para seguir regras lógicas e precisas, de modo consistente e coerente. A dificuldade que muitas pessoas exibem quando enfrentam as exigências formais sempre foi atribuída a uma ignorância, cujo melhor remédio estava no ensino e exercício constante da disciplina lógica.
Texto sobre Racionalidade Humana inserido agora no curso de Ciência Cognitiva de Discursus.

Imagem

Ciência CognitivaPerante tudo que foi dito sobre percepção visual, afinal, ainda restam dúvidas quanto ao fato de existirem ou não imagens mentais. Há quem diga que tais imagens não passam de descrições verbais e abstratas, cujo significado não pode ser apreendido senão pela linguagem. Pesa contra a imaginação seu caráter subjetivo, que a torna inacessível a outros indivíduos além de quem imagina. Falta saber também se a imaginação é ativada, caso ela realmente exista, pela mente como a percepção normal ou se ela sofre outras influências.
Os argumentos de quem defende uma cognição formada a partir de imagens são agora tratados no texto Imagem Mental, inserido no curso de Ciência Cognitiva de Discursus.

A Civilização dos Moluscos

Lula Lelé

A Lula Lelé, animação dos estúdios Hannah & Barbera, dos anos 80.

O filósofo estadunidense Thomas Nagel, nascido na antiga Iugoslávia,  em seu livro A Última Palavra (1997) – mais precisamente no capítulo 7, seção II, página 163 da edição brasileira -, levanta a hipótese da existência de uma “mente geral” da qual a mente humana seria uma espécie e mesmo uma civilização de molusco que governasse a Terra poderia fazer parte. Nagel não chegou a desenvolver em detalhes como funcionaria essa sociedade de invertebrados, mas, tendo em vista as experiências políticas vividas no Brasil nos últimos anos, não é difícil imaginar como seria.
Uma civilização de moluscos talvez fosse a do tipo que batiza campos petrolíferos com o nome de seu líder demagogo, para bajulá-lo um pouco mais. Sendo, ainda por suposição, uma das maiores economias do mundo, se empolgaria por manter sua renda per capita abaixo da média mundial. Por conseguinte, aceitaria placidamente o posto de um dos dez países mais desiguais do planeta. Além disso, se orgulharia de ver sempre seus estudantes serem reprovados em testes escolares internacionais; bem como dos recordes constantes de epidemias e insalubridade.
Mesmo em tempo de paz, sustentariam bravamente os moluscos índices de violência de países em guerra. Concluiriam “logicamente” que quem não procurou emprego na semana passada está bem empregado e não tem nenhum desalento em buscar por um emprego que não existe. Apesar da inflação e de suas dívidas trilhionárias crescentes alimentarem as maiores taxas de juros, consideram que tudo vai bem e que suas economias estão “equilibradas e sustentáveis”.
Uma civilização tão inteligente como a dos moluscos pensaria que seu líder demagogo é muito popular, pois havia tomado uma vaia gigantesca no meio de seu mandato de oito anos e mesmo assim conseguira eleger sua sucessora fantoche com os votos de menos de um terço da população molusca. E por conta de todas essas façanhas e sagacidade, se achariam o povo mais alegre e esperto da Terra. Uma evolução assim não estaria muito fora do alcance dos brilhantes moluscos brasileiros, como poderia especular a vã filosofia de Nagel.