A Lula Lelé, animação dos estúdios Hannah & Barbera, dos anos 80.
O filósofo estadunidense Thomas Nagel, nascido na antiga Iugoslávia, em seu livro A Última Palavra (1997) – mais precisamente no capítulo 7, seção II, página 163 da edição brasileira -, levanta a hipótese da existência de uma “mente geral” da qual a mente humana seria uma espécie e mesmo uma civilização de molusco que governasse a Terra poderia fazer parte. Nagel não chegou a desenvolver em detalhes como funcionaria essa sociedade de invertebrados, mas, tendo em vista as experiências políticas vividas no Brasil nos últimos anos, não é difícil imaginar como seria.
Uma civilização de moluscos talvez fosse a do tipo que batiza campos petrolíferos com o nome de seu líder demagogo, para bajulá-lo um pouco mais. Sendo, ainda por suposição, uma das maiores economias do mundo, se empolgaria por manter sua renda per capita abaixo da média mundial. Por conseguinte, aceitaria placidamente o posto de um dos dez países mais desiguais do planeta. Além disso, se orgulharia de ver sempre seus estudantes serem reprovados em testes escolares internacionais; bem como dos recordes constantes de epidemias e insalubridade.
Mesmo em tempo de paz, sustentariam bravamente os moluscos índices de violência de países em guerra. Concluiriam “logicamente” que quem não procurou emprego na semana passada está bem empregado e não tem nenhum desalento em buscar por um emprego que não existe. Apesar da inflação e de suas dívidas trilhionárias crescentes alimentarem as maiores taxas de juros, consideram que tudo vai bem e que suas economias estão “equilibradas e sustentáveis”.
Uma civilização tão inteligente como a dos moluscos pensaria que seu líder demagogo é muito popular, pois havia tomado uma vaia gigantesca no meio de seu mandato de oito anos e mesmo assim conseguira eleger sua sucessora fantoche com os votos de menos de um terço da população molusca. E por conta de todas essas façanhas e sagacidade, se achariam o povo mais alegre e esperto da Terra. Uma evolução assim não estaria muito fora do alcance dos brilhantes moluscos brasileiros, como poderia especular a vã filosofia de Nagel.