Opinião e Certeza Subjetiva

OS antigos helenos distinguiam a doxa (opinião) da episteme (conhecimento). Para eles, a opinião poderia fundar uma técnica qualquer – a arte de fazer sapatos, por exemplo -, mas não seria suficiente para fundamentar a ciência ou conhecimento verdadeiro. A separação entre opinião e conhecimento científico vem daí. Enquanto a primeira permite a confecção de objetos apoiada numa prática generalizada, o segundo fornece os princípios que fazem dessa prática algo válido em geral. A opinião tem sua fundamentação em concepções subjetivas e quando essas são partilhadas por uma comunidade, as opiniões individuais somadas formam o senso comum. Ao contrário das ciências, o senso comum não procura justificar suas opiniões por meio de experiências que falsifiquem suas posições. Simplesmente, assumem uma verdade baseada na tradição ou em crenças.

Certeza Subjetiva

Um crítico certeiro do Subjetivismo

A forma de certeza fundada no sujeito que é a base da subjetividade. A certeza subjetiva não se apoia em observações, por confiar plenamente em suas convicções racionais internas, difere da certeza objetiva, que busca sustentação em conhecimento obtido através da observação sistemática de fenômenos que se repetem e podem ser percebidos por todos. René Descartes (1596-1650) procurou no interior do sujeito racional um tipo de verdade indubitável que pudesse servir de apoio a todo conhecimento verdadeiro. Encontrou na expressão “cogito, ergo sum” (penso, logo sou) aquela condição que a seu ver não poderia ser rejeitada sem contradição. Tudo isso, porque a certeza objetiva era vulnerável ao ataque de uma crítica cética, já que do fato de um fenômeno se repetir inúmeras vezes, não se segue isso vá ser assim sempre. Ludwig Wittgenstein (1889-1951), muitos anos depois, questionou essa certeza subjetiva cartesiana, afirmando que a simples proposição “eu sei” não basta. Afinal, é necessário apontar objetivamente que um erro não é possível em um caso determinado. Aos céticos da certeza objetiva, Wittgenstein perguntava se faz sentido duvidar da aparente certeza sobre o acontecimento observado, se ele estivesse amparado num uso apropriado da linguagem. Com isso, foi possível restaurar uma certeza objetiva sob nova perspectiva: a de uma prática linguística que influenciou toda filosofia contemporânea.

Referências Bibliográficas

ARISTÓTELES, Metafísica. – Porto Alegre: Globo, 1969.
BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. – Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
DESCARTES, R. Meditações. – São Paulo: Abril Cultural, 1983.
WITTGENSTEIN, L. Da Certeza. – Lisboa: Edições 70, 1990